O treinador João Santos regressou ao Centro de Cultura e Desporto do Bairro da Conceição, comprometido com o projeto que, na época 2017/2018, não terminou. E voltou sem identificar outros objetivos que não sejam a criação de um grupo unido e comprometido com o clube.
Texto Firmino Paixão
O técnico assegura que compromisso “é uma palavra fundamental numa divisão onde não existem condições para pagar a jogadores” e recorda que “é mais difícil trabalhar na segunda divisão do que na primeira ou no campeonato nacional de seniores”, pela simples razão de não existirem compensações financeiras. João Santos assegura que “foi muito fácil” aceitar o convite para “regressar a uma casa que já conhecia”. “Até porque, na altura, iniciei um projeto que não terminei. Mas fiquei sempre com esse sentimento e com o desejo de, um dia, aqui voltar para concluir esse trabalho que ficou inacabado”.
E esse projeto passa, exatamente, pelo quê?
Quando me convidaram sabia o que tinha cá deixado e sabia que as coisas, depois, tinham corrido bem. Por isso, agora nem me debrucei muito sobre o que iria aqui encontrar. Vim de coração aberto, para tentar ajudar, fiz conta com todos os que terminaram a última época, falei com todos e iniciámos aqui um novo projeto, de acordo com a forma como eu gosto de trabalhar, que é mais com jovens jogadores, porque estive muito tempo na formação e é nessa área que tenho a minha base de recrutamento.
Quer dizer que tem conseguido tirar proveito das passagens anteriores pelas áreas da formação?
Sim, eu gosto de potenciar e valorizar os jovens atletas e tentar, de alguma forma, puxar por este pessoal mais jovem. Não foi fácil recrutar jogadores, existem por aí muitas equipas, mas conseguimos construir um projeto giro, o que conta aqui no Bairro é um bocadinho isso, fazermos com que as pessoas venham ao campo ver a equipa jogar à bola. As metas passam muito por aí, mais do que qualquer outro objetivo como, por exemplo, chegarmos à segunda fase do campeonato ou sermos campeões. A mentalidade continua a passar muito por viver o jogo a jogo.
Encontrou um clube diferente e melhor do que tinha deixado há quatro épocas atrás?
Não vou dizer que está melhor, isso é relativo, mas diferente está, não tenho dúvidas. Mas vamos tentar unir as pessoas, fazer com que sintam desejo de representar este clube, esse é também o meu objetivo.
O clube tem instalações muito apetecíveis, é um clube da cidade, deveria ser mais fácil o recrutamento de jogadores…
É verdade, uma das questões que me trouxe ao Bairro tem muito a ver com a situação da formação, área de que gosto muito. O Bairro tem todas as infraestruturas para que se possa fazer aqui um bom trabalho. A proposta que me fizeram foi no sentido de coordenar a área da formação mas eu achei que não era a altura certa, até porque não estava ainda bem por dentro do que aqui se vivia nessa área e entendi que podia ser mais útil como treinador de um desses escalões jovens. Outra coisa que me atraiu aqui foi também a parte do “FootLab” que é a tecnologia visual, tentar potenciar os jovens na técnica individual e no treino de guarda-redes que, defendo, tem sido uma grande lacuna existente no nosso distrito. Agora, as infraestruturas estão cá, faltarão as pessoas certas, nos sítios certos, para que as coisas possam andar para a frente.
Já se referiu mais do que uma vez a projetos. Acredita na existência de projetos a este nível ou um treinador vive apenas de resultados?
Projeto é um termo que se utiliza com frequência. Sei lá, se calhar não existem projetos. Mas a minha intenção, por onde tenho passado, foi sempre criar bons grupos de trabalho. O que levamos nós do futebol distrital? Repare que abaixo da segunda divisão distrital está, apenas, o futebol do Inatel, portanto, não podemos pensar que estamos na primeira liga. Temos que criar um bom grupo, criar uma família, isso é o mais importante, porque, para superarmos as dificuldades, tudo será mais fácil se estivermos unidos. Quando começamos a subir patamares, da segunda para a primeira, da primeira para o Campeonato de Portugal, os grupos vão-se perdendo e vai-se ganhando a qualidade individual, algo que vai fazendo a diferença, mas deixa de existir tanta amizade entre o grupo e surge o profissionalismo. Acredito muito que, a este nível, a existência de um grupo forte, coeso e com identidade, nos trará coisas positivas.
Já revelou que não existem metas concretas, mas existe ambição e espírito de conquista?
É isso, vamos entrar em todos os jogos para vencer. Se conseguiremos, ou não, logo se verá. Há muitas variáveis que influenciam os resultados, mas a nossa atitude será sempre com os olhos na vitória. Se o adversário for melhor, parabéns, mas faremos de tudo para ganhar o jogo. Enquanto treinador, ambiciono sempre muito mais, ganhar, valorizar os jogadores e fazer crescer a equipa. Mas também sou muito realista e consigo perceber o que é possível e o que não é atingível. Neste momento, não consigo prognosticar o que iremos fazer, até porque, este ano, estamos numa série muito forte, com uma equipa como o Mértola United, que nos dificultará imenso, dadas as características desse projeto. Todas as equipas estão reforçadas, portanto, espero que seja um bom campeonato.
Está satisfeito com o plantel?
Costumo dizer que trabalho com quem quer trabalhar comigo. Quem me conhece vai acreditando no meu trabalho. Os outros podem ter algumas dúvidas. Neste momento, o Bairro está a construir uma equipa com os jogadores que aqui querem trabalhar, é isto, não temos outro tipo de argumentos. Temos um sintético, temos ambição, queremos construir um grupo unido, aguerrido e disponível para trabalhar.
O Bairro já não é um clube de bairro. Merecia andar noutros patamares competitivos?
Acho que sim. O Bairro da Conceição, com as condições que possui, merece estar mais acima. A própria área da formação tem vindo a crescer e existem todas as condições para que se possa fazer aqui um bom trabalho. As pessoas têm que vir à bola, aproximarem-se de nós, apoiarem o clube, e nós retribuiremos com trabalho, com atitude e com vitórias, porque são as vitórias que trazem as pessoas à bola. Quando as coisas correm mal, afastam-se. Mas temos que ter um bom grupo, porque são os grupos fortes e as equipas ganhadoras que projetam o nome dos clubes.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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