José Saúde
Os júbilos das crianças
Fomos crianças, brincámos na rua, fizemos tropelias, construímos amizades, causámos arrelias aos pais, zangávamo-nos por pequenos nadas, mas, logo de seguida vinha a bandeira branca que tranquilizava o desaguisado, enfim, uma série de traquinices próprias da idade. Fomos, também, miúdos felizes em que o prazer desportivo acalentava os júbilos das crianças. A pouca longevidade de existência proporcionava eloquentes alegrias a jovens que despontavam para a voluptuosidade que o momento proporcionava. Catraios que se dividiam pelas parcas modalidades existentes. Hoje, tudo evoluiu de acordo com as infraestruturas que foram construídas em tempos de liberdade. Mas, o Mundo no seu constante aperfeiçoamento, foi paulatinamente formatizando os seus valores globais, instrumentalizando a faculdade para gerar novos confortos e no presente confrontamo-nos com espaços desportivos de qualidade extraordinária. Após este pequeno introito, embora o façamos com subtileza, mas integrado na generalidade do contexto, leva-me a empatia pelo universo da minha já velha paixão a uma deslocação que fiz no pretérito sábado, 3 de dezembro, 2022, ao Pavilhão da Escola de Santa Maria, em Beja, onde me deparei com um torneio de futebol entre petizes cujas idades se situam entre os cinco e os seis anos, creio. Mergulhei então no passado e revi-me como criança a jogar à bola, bolas estas feitas de trapos e com uma meia furtada à mãe, outras com bexigas de porco, outras de borracha, onde os jogos, em terra batida, terminavam aos 10, mudávamos de campo aos cinco, sendo as balizas delimitadas por duas pedras. Agora, tudo mudou radicalmente, e ainda bem. Vi crianças felizes equipadas com as cores das coletividades para as quais desenvolvem as suas artes no jogo. Sensibilizou-me, e assumo-o com seriedade, a forma como os miúdos, na sua inocência, alegremente conviveram. Os segredos, quer aos companheiros de equipa quer aos adversários, assim como as carícias que os meninos carinhosamente exerciam no rosto de um amigo que defendia um emblema diferente, quiçá parceiro de aula no jardim-escola, foram bênçãos de uma simplicidade onde a sua humildade é, e será, uma inquestionável lição para que nós, adultos, recolhermos sublimes informações acerca de um cosmos desportivo o qual resvala, por vezes, para conceptualizações díspares sobre o sabor de uma vitória que é conquistada com base em falsidades que os homens maduros vergonhosamente assumem como sua. Viajemos, embora simbolicamente, pelo interior do futebol dos mais novos, onde o jogar à bola é uma pura brincadeira e não um palco de eventuais desavenças protagonizadas, a espaços, pelos mais velhos. Crianças, vergo-me perante a vossa compreensível inocência na qual sobressai o mero prazer pela prática desportiva!
Fonte: Facebokk de JOse Saude
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