Como está diferente o meu futebol! Quando antigamente ia ver os jogos do Desportivo de Beja ao Flávio dos Santos, o que toda a malta queria ver eram os golos do Xico Faria, as rabetas do Hilton, os voos do Chapita ou os aquecimentos do bailarino Jorge Lucindo, que era um regalo só de vê-lo! Beber um copo no bar, roer uma ervilhanas ou umas pipas, e mandar cá para fora umas bocas que muitas vezes nos apetece dizer ao nosso chefe, ao cliente que nos chateia ao balcão, ao funcionário público que está ao telemóvel e não nos atende, ou à nossa Maria que nos chateia cada vez que chegamos a casa a cheirar a bebida, mas que como a esses não as podemos mandar, é o árbitro que as paga aos fins de semana! Mais o gajo da “cabana”, que quando punha a cabecinha de fora para dar indicações ouvia logo das boas. Era difícil passar em Beja, pois o ambiente era forte, o público muito e a pressão positiva! Como está diferente a bola hoje em Beja! Qualquer equipa chega hoje à capital com uma falange de apoio quase sempre maior do que a que está cá. Seja a nível distrital, seja ao nível dos campeonatos nacionais de jovens, não é difícil serem os nossos a sentirem a pressão, junto ao ferro no sintético, ou junto à pista de tartan no Fernando Mamede, dos acompanhantes que as equipas trazem e que vêm para ver a bola. Porque em Beja quem vai à bola já não liga! Prefere ir para uma amena cavaqueira junto ao bar (à barracas das cervejas, qual bar), do que em ver o que se passa no campo! Ganhar ou perder é igual ao litro. Já não se vive a bola como antigamente, e principalmente o golo! A que Domingos chamou um dia o orgasmo do futebol (se bem que ainda estamos em idade de troca-lo por um verdadeiro, e aí que se lixe o jogo, convenhamos…) já não é vivido nos campos de Beja como antigamente. Ser autogolo, ou um golo de pontapé de bicicleta, é vivido com a mesma intensidade: um tímido “olha foi golo!”. Como se uma brasileira de 18 anos fosse igual a uma cabeluda de 40, com verrugas no nariz, mau cheiro da boca e buço até às orelhas! O meu futebol está diferente. Neste jornal olhamos para cima e assustamo-nos! Os nossos ilustres colegas de página transformam o meu jogo preferido em sistemas, estruturas, com referências a Garganta e Cunha e Silva e dizendo que “os comportamentos emergem da interacção de múltiplos constrangimentos”! A nossa singela crónica até se encolhe ao olhar para os 2 monstros que têm uma visão diferente sobre a bola. Mais técnica, mais ciêntifica, correcta do ponto de vista teórico e que revela um conhecimento que os estudos e as pesquisas lhe permitem alcançar, e disponibilizam para todos nós esse conteúdo. À nossa associação também já chegaram os “workshops”, os “projectos”, as “extruturas” com seleccionadores, treinadores, metodologias, etc. As melhorias são positivas, os termos técnicos também, mas o futebol em Beja tem de ser repensado. Por clubes, por Associação, por dirigentes. Voltar a chamar “o povo”. O que vê os “esquemas” mas por vezes não os percebem. O que paga as quotas para os dirigentes irem a “workshops”, os que criam os ambientes e dão o calor ao jogo! Para esses há que voltar a inventar o jogo. A torná-lo atractivo e a combater com o “futebol de tv”, os centros comerciais e os passeios ao fim de semana! A falta de dinheiro para subsídios, a falta de dirigentes para trabalhar, a falta de público a assistir, parte em muito da desvirtuação do “jogo da bola” na sua essência. Da popularidade que perdeu e da malha de intrigas, trocadilhos e mal dizer que se tornou o nosso futebol na nossa cidade. Sentem-se à mesa meus senhores! Peçam uma de tinto, umas linguiças, um panito do Zé Fernando, e conversem! Voltem a cativar as pessoas para o futebol em Beja, pois essas são a essência de qualquer actividade.
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