sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Vencido nunca se conhecerá...


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Luís Costa, 41 anos, inspetor da Polícia Judiciária e campeão nacional de paraciclismo, nasceu na região do Campo Branco, coração da planície, celebrava-se o Dia de Camões no ano de 1973.

Texto Firmino Paixão
Foto UVP/FPC


Está, por isso, predestinado a “navegar por mares nunca navegados” e, como adiante revela a sua verdadeira epopeia desportiva, até “mais do que prometia a força humana”. O seu pai era pastor, algo de que Luís muito se orgulha, e a transumância do pastoreio obrigava a múltiplas migrações pela planície. Por isso, quando ele tinha cinco anos, a família fixou-se em Montes Velhos, onde passou a sua adolescência “com a cabeça cheia de sonhos e de projetos para o futuro”, afinal como qualquer jovem desse tempo. Concretizou os maiores desejos que ao tempo arquitetou, ser atleta e ser polícia, o que ainda é pouco para a sua absoluta realização pessoal. Luís Costa lembra que teve “o privilégio de praticar atletismo pelo Desportivo da Juventude Aljustrelense” e recorda frequentemente “as inúmeras corridas” que disputou, e “as vitórias e os amigos” que fez.
Cumprido o serviço militar, deu asas ao sonho de ingressar na polícia, mas no dia em que completou 30 anos teve um grave acidente de moto que resultou na amputação do membro inferior direito. “Muita coisa mudou a partir desse dia”, mas não se acomodou, confessa.“Continuar a praticar desporto foi uma das formas que encontrei para ultrapassar os efeitos causados pelo choque resultante da amputação. E quando descobri o paraciclismo, a minha vida deu mais uma volta de 360 graus”.
Ora que não! Em março de 2013, em Fafe, estreou-se numa prova do Campeonato Nacional de Paraciclismo, que venceu. Daí à conquista do título nacional e à consequente internacionalização foi um pequeno passo, melhor, uma só pedalada. Os seus dias “passaram a ser demasiado curtos para treinar, trabalhar e dormir”. “Tenho que me levantar às 6 horas para treinar antes de entrar no trabalho e nunca sei a que horas chegarei a casa”, explica.
Hoje é já o 5.º do ranking da União Ciclista Internacional na sua classe (H5).“Mais do que um grande orgulho, é o reflexo do meu empenho e do trabalho sério que tenho vindo a desenvolver”, diz. É, por isso, o primeiro e único português a competir nos Mundiais de Paraciclismo, disputados em finais de agosto na Carolina do Sul (Estados Unidos) e com resultados satisfatórios. “O 7.º lugar no contrarrelógio foi dentro do esperado, mas o 9.º lugar na prova de fundo foi um pouco frustrante para mim, sei que tinha condições para acabar nos primeiros cinco”, admite. Mais recentemente, competiu em Fossano, na Itália, na etapa final do Campeonato Europeu da European Handcycling Federation (EHF). “Correu-me muito bem, pois venci ambas as provas, contrarrelógio e fundo, e mostrei claramente que teria ganho esse campeonato se tivesse disputado pelo menos mais uma ou duas provas das 12 que compunham o calendário. Venci as seis em que participei e bati o vencedor da geral em todas as provas que disputei contra ele este ano, tanto no Europeu como na Taça do Mundo. Mas tive que me contentar com o 2.º lugar da geral, porque não consegui patrocínios para ir a mais provas”, explica.
Mas a ambição é ilimitada. “As vitórias que consegui até ao momento não são nada em comparação com um lugar no pódio nas provas da Taça do Mundo ou do Campeonato do Mundo. Ir aos Jogos Paralímpicos em 2016, então, seria a cereja no topo do bolo, representar Portugal é sempre um orgulho”. E a tal realização absoluta, acrescentamos nós.
Uma invulgar história de vida! Será? “Se isso servir para ajudar alguém, gosto de pensar que poderei ser um bom exemplo para quem não quer desistir perante as dificuldades da vida”, contrapõe Luís Costa, um desportista em cujo léxico não constam palavras como “desânimo” e “resignação”: “Não constam mesmo! Fui paraquedista militar e ouvia diariamente frases como ‘que nunca por vencidos se conheçam’  ou ‘é perante o obstáculo que o homem se descobre’. Ainda hoje me guio por esses lemas”.
Na verdade, sempre foi “um guerreiro”. “Não foi algo que adquiri após o grave acidente que sofri. Talvez por isso me tenha erguido tão rapidamente e não duvido que ainda tenho muito mais para dar. Só preciso das ferramentas para tal”, concluiu o desportista, elogiando a coragem dos atletas nacionais: “É o que demonstram todos os atletas das modalidades não futebolísticas deste país, que mesmo sabendo que nunca vão ser apoiados como merecem, continuam a treinar no duro e a dar o seu melhor sempre que são chamados para representar Portugal...e raramente desiludem!”.
Agora Luís Costa precisa de mais e melhores apoios para prosseguir, em provas internacionais, a sua preparação para os Jogos Paralímpicos de 2016, no Brasil.
Fonte: http://da.ambaal.pt

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