sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Os escoteiros da planície


A necessidade aguça o engenho? Vamos a isso! Umas dezenas de pranchas de madeira dispostas em estrado sobre bidões de plástico, bem fechados, assentos de cadeiras presos ao estrado e uns tantos remos.

Texto e fotos Firmino Paixão

Um pouco de paciência, outro tanto de criatividade, e duas semanas depois as jangadas estão prontas a flutuar. Uma dúzia de jovens do Grupo 28-Escoteiros das Planície, de Moura, seguiu à risca este “grosseiro” manual de instruções e, no passado fim de semana, fizeram-se às águas do Rio Guadiana, numa expedição (entre a Orada e a antiga ponte férrea sobre o Guadiana) designada de “Rio Encontro”, que evocou os 30 anos volvidos sobre a grande “Expedição Guadiana” que outros aventureiros do Grupo 28 efetuaram em 1985, desde o Cais do Fragal (Moinhos da Barca) até à foz do rio, na cidade de Vila Real de Santo António.
O desejo de aventura, o usufruto da natureza e o alerta para a preservação do ambiente e da riqueza natural, estavam no menu de provisões que embarcaram, rio abaixo, nas três jangadas. Alberto Franco, um dos expedicionários de 1985 e Coordenador do Grupo 28, afirmou que este “Rio Encontro” foi o “reencontro do grupo de escoteiros com o rio Guadiana, mas a ideia base é que os jovens consigam absorver aquilo que eu e os meus colegas desfrutámos na altura, tudo o que de bom o Guadiana tem para nos oferecer, um legado que é de todos nós e que, pouco a pouco, está a ser esquecido”.
O escoteiro chefe lembrou: “Fizemos a primeira grande expedição em 1985, repetimo-la em 1986, mas com um percurso diferente, porque a primeira começou nos Moinhos da Barca e foi até Vila Real de Santo António e, em 1986, saímos da Foz do Caia e descemos até Mértola”. À evocação da aventura pioneira, associou-se a intenção de dar visibilidade ao Grupo 28: “Também existiu essa preocupação, mostrar aos mais novos, principalmente, mas também aos adultos, os valores que um grupo de escoteiros consegue incutir nos jovens. A preservação do ambiente e o contacto com a natureza, para que a consigamos valorizar e proteger, e também o auxílio ao próximo, são valores intocáveis”. Depois, adiantou, o “grupo fica mais forte, com certeza, porque os participantes nesta atividade vão encarar o novo ano escotista com outro ânimo e com outra vontade, principalmente com o desejo de encararem outros desafios”.
As exigências de segurança tiveram tolerância zero, confirmou ainda Alberto Franco: “Fizemos um reconhecimento do rio e, durante todo o percurso, tudo o que é possível imaginar a nível da segurança dos jovens foi devidamente assegurado, mas foram eles que construíram as próprias jangadas onde, além da água, transportaram algumas peças de fruta, alimentos enlatados ou barras energéticas; por terra seguiu apenas o jantar e pequeno-almoço do dia seguinte”.
Fundado em 1970, o grupo tem tido um percurso crescente e “principalmente muito aliciante para os jovens mas, hoje em dia, acaba por ser um pouco mais difícil cativá-los, porque querem outro tipo de desafios. Na altura em que eu entrei para os escoteiros qualquer ‘jogo noturno’ ou um mero ‘seguimento de pista’ era uma atividade fantástica, hoje em dia as coisas já têm que ser mais elaboradas”, referiu. Ainda assim, em Moura, uma terra onde o escotismo tem um impacto já com algum significado na juventude, até ao dia 10 de outubro próximo, existirão dois grupos filiados na Associação de Escoteiros de Portugal (AEP), o 28 e o 195. “Nessa data, que marca o início do ano escotista, faremos uma festa de união dos dois grupos, já avalizada pela chefia nacional. Mudamos o lenço, mas a designação Grupo 28 manter-se-á porque somos o grupo mais antigo da AEP em todo o Baixo Alentejo. Ficaremos com um efetivo de cerca de 100 elementos, o que já é deveras importante”, concluiu Alberto Franco. E, no próximo ano, todos os caminhos irão dar a Santiago de Compostela, a pé ou de bicicleta, mas fora das águas do “grande rio do Sul” e sempre sob os valores do código de Baden Powell, que priorizam a honra e a ajuda ao semelhante.

Fonte: http://da.ambaal.pt

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