quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Um trabalhador inspirado


Campeão nacional de juvenis e medalha de bronze na Taça da Europa 2016, em patinagem artística, o jovem Claudiu Rus assegurou: “Continuo a ser o mesmo Claudiu, o mesmo trabalhador inspirado que era antes”.

Texto e foto Firmino Paixão

Claudiu Rus chegou a Portugal com três anos, uma idade em que a perceção da vida ainda é algo ténue. A vila de Cuba foi o porto de abrigo para uma família, entre tantas as que, na última década, têm trocado o leste europeu pela procura de oportunidades nos países ocidentais do sul da Europa. Foi num ambiente de bom acolhimento que o miúdo foi crescendo, tomando pulso à nova realidade, a escola, os amigos, o clima, atento ao que à sua volta lhe pudesse despertar interesse. O tempo das descobertas começou cerca dos seis anos: “Comecei a ver jogos de hóquei em patins e fascinei-me. Adorei a beleza do jogo e a velocidade com que se pratica, mas em Cuba não existia hóquei em patins, então, uma amiga minha disse-me para vir para a patinagem artística. Vim e gostei muito”.
Hoje representa um clube local, emblema que qualifica como “um clube espetacular, cinco estrelas”. “Tenho muito a agradecer ao Clube de Patinagem Artística de Cuba, é a minha segunda casa, as pessoas são verdadeiramente excecionais, os atletas, os pais, os dirigentes, todos são pessoas especiais”, afirmou Claudiu num português fluente, mesclado por um ligeiro sotaque e por uma alegria que, a espaços, se misturou com emoção.
Mas, afinal, quem é este jovem campeão? “Nasci na Roménia, na cidade de Sighetu Marmatiei, no distrito de Maramures, região da Transilvânia, uma terra com cerca de 41 mil habitantes. Vim para Portugal com três anos e também já tenho nacionalidade portuguesa. Os meus pais vieram trabalhar para Cuba e por aqui ficámos”.
Aos 16 anos é, seguramente, uma das grandes promessas na patinagem artística nacional, mas à velocidade a que a sua ambição rola sobre os patins, sabe-se já, porque o próprio confessou, que o seu “sonho é chegar aos Campeonatos do Mundo de Patinagem Artística. É um desejo que interiorizei desde que me iniciei nesta modalidade”, até porque “a minha ambição não tem limites e a vontade de trabalhar e ser cada vez melhor atleta também são enormes, por isso, o meu sonho, a minha ilusão, será a de um dia poder ser campeão do mundo. Isso seria, como se diz em Portugal, a cereja no topo do bolo. Mas para evoluirmos e para sermos cada vez melhores precisamos de trabalhar muito e de ter enorme dedicação pela modalidade”, admitiu.
Aluno na Escola Fialho de Almeida, em Cuba, Claudiu é um daqueles seres que continua “miando pouco, arranhando sempre e não temendo nunca”, como retratou o escritor alentejano na sua obra Os Gatos. Por isso, após a conquista do título nacional, Claudiu teve o seu primeiro grande êxito além-fronteiras, na cidade italiana de Calderara, onde conquistou o bronze na Taça da Europa 2016. E descreveu esse momento como “uma experiência muito gratificante. Trabalhei todos estes anos com o pensamento em chegar a uma prova internacional e ter sucesso. Queria muito que isso tivesse acontecido antes mas, por alguma intranquilidade, ainda não o tinha conseguido e, finalmente, consegui alcançar algo com que sonhava”.
Uma medalha que teve um significado especial, até porque “este ano consegui também o meu primeiro título de campeão nacional, o que nunca tinha conseguido, fiquei muito feliz e creio que me deu muita força para poder seguir em frente”. Mas nada se alterou na sua personalidade: “De maneira nenhuma, sou uma pessoa muito humilde, continuo a ser o mesmo Claudiu, o trabalhador inspirado que era antes e, no futuro, será sempre assim”.
O seu treinador, Edgar Cheira, terá, porventura, um pouco de responsabilidade neste sucesso, confirmou Claudiu: “Naturalmente que sim, temos uma relação de muita cumplicidade, o Edgar é como se fosse um segundo pai para mim, porque damo-nos muito bem. Devo muito ao meu treinador Edgar, à Ana Bicho, aos preparadores físicos, sem todos eles nada disto seria possível e eu não estaria onde estou”.
Já o técnico não tem dúvidas: “O Claudiu é um atleta extremamente completo, tanto ao nível técnico, como artístico, tem um excelente desempenho nestas duas facetas. É um miúdo extremamente trabalhador, muito humilde e tem todas componentes para que, no futuro, possa ser um atleta fantástico, com muito potencial para brilhar a nível nacional e internacional”.
Na próxima época, já em 2017, o patinador “cubense” espera repetir as mesmas performances e renovar o título nacional. “Estou cá para trabalhar, para manter a ambição e, em termos internacionais, se este ano foi o bronze, vou ter que trabalhar mais para chegar ao ouro”, afirma. Alimentando o seu fascínio pela patinagem, prestigiando o clube que o integrou na comunidade local e no desporto nacional e dando alegrias à família, até porque “os meus pais estão muito felizes com este meu sucesso”. “Em boa hora vim para Portugal, sinto um orgulho imenso por estar neste país e por ter já nacionalidade portuguesa”, conclui. “Mulțumesc Claudiu! Sã fii fericit, campionule”. (Obrigado Claudiu! Sê feliz, campeão).

Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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