sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Bola de trapos, edição de 9 de agosto de 2019 no Diário do Alentejo

José Saúde
Memórias de lugares
Beja, urbe onde as memórias de lugares com história caem em catadupa, esconde inteligíveis recantos que leva o cidadão comum ao encontro de sítios que outrora marcaram literalmente gerações e que fizeram do fenómeno desportivo um hino à liberdade física e intelectual. E se em 1888 o “desporto rei” chegou a Portugal por via dos irmãos Pinto Bastos, Guilherme, Eduardo e Frederico, jovens que estudavam num colégio em Liverpool, Inglaterra, Beja, em 1906, deparou-se com a chegada do chamado “vício do jogo da bola”. Desse fabuloso grupo de incitadores de uma modalidade que assinalava os seus primórdios, destacavam-se Frederico Durão Ferreira, Mário Durão de Sá Ferreira, José Campos Penedo, Manuel Gomes Palma, José Gomes Palma, José Cardoso, Joaquim Vilhena Freire de Andrade, Francisco Nobre Guedes, Valentim Bravo, Francisco Palma Vargas, Manuel de Castro e Brito de Almeida, Francisco de Castro e Sousa Cunha, José Carvalho e os seus irmãos Carlos e Albino. O grupo, detentor de uma bola de cautchou, reunia-se para treinar numa eira pertencente ao pai de Joaquim Vilhena, lá para as bandas da estação dos caminhos de ferro, e divertia-se com a novidade. Nesses tempos havia um outro campo improvisado no Largo da Conceição, mas este permanentemente vigiado pelos polícias de giro. As balizas eram assinaladas por duas pedras e os atropelos à leis de jogo acometidas por sistemáticas infrações. E foi assim que o futebol nasceu em Beja. Seguiu-se a formação de clubes, ou grupos, sendo os espaços mais utilizados as antigas eiras. Nos princípios de 1930, e quando o futebol se deparava com uma descomunal atividade, no dia 1 de fevereiro de 1931 inaugurou-se o Estádio Condessa d’Avilez. A novel infraestrutura trouxe outras nuances competitivas e por lá se fizeram maravilhosos derbies. O Luso, fundado a 16 de junho de 1916, assumiu o Condessa d’Avilez como o seu próprio recinto e naquele espaço subscreveu páginas de grande reputação. Com a dinâmica futebolística a evoluir, a 27 de abril de 1953 foi inaugurado o Estádio Municipal Engenheiro José Frederico Ulrich, sendo que a autarquia, mais tarde, conferiu-lhe o nome de Dr. Flávio dos Santos. Pelo meio desta maratona ficou ainda o campo do Liceu onde o Desportivo também atuou. Somos de uma época em que assistimos ao refulgente desenvolvimento futebolístico e de multidões de criaturas que sequiosamente assistiam a fascinantes exibições do Desportivo de Beja. Hoje, o futebol concentra-se no Complexo Desportivo Fernando Mamede, sendo que ali existem dois campos sintéticos e um relvado, o que nos transporta para exequíveis memórias de lugares que indicam a data de 27 de setembro de 1992 quando houve a transição do Flávio dos Santos para o presente Complexo num jogo que opôs a formação bejense ao Silves.
Fonte: Facebook de Jose saude.

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