Texto Firmino Paixão
Luís Soudo, jogador do Futebol Clube de Serpa, nasceu em Cuba há 31 anos e define-se como “um rapaz que sempre teve o sonho da maioria dos meninos da minha época, que era ser jogador profissional de futebol”. Mas, lamenta, “infelizmente, esse sonho não se veio a concretizar”. Olhando para o passado: “Sem sombra de dúvida que tive uma infância muito feliz. Uma infância onde o desporto, principalmente o futebol, esteve sempre presente. Sendo Cuba uma vila muito ativa, sempre tive amigos para brincar, correr e fazer asneiras, tudo o que uma criança deve fazer nessas idades”. Nesses tempos brincava-se nos baldios, jogava-se à bola. “O nosso dia-a-dia era diferente, íamos para a escola cedo, esperando logo que se ouvisse o toque para irmos para o intervalo e jogar à bola. Chegávamos sempre atrasados, todos suados, algumas vezes até com algumas feridas, porque não existiam relvados. O futebol sempre fez parte do nosso crescimento”.
Nasceu assim esta paixão, numa terra onde a modalidade teve sempre grande tradição. “Nenhuma outra modalidade me despertou a atenção e me deu tanto prazer como jogar futebol. Como é óbvio, naquela altura, nós queríamos era correr e brincar, jogávamos, algumas vezes, basquetebol, andebol, mas eram situações muito esporádicas, nada que levasse tão a sério como o futebol”. Mas falamos de uma terra de grandes tradições, não só no futebol, como na tauromaquia, e Luís Soudo até teve família nessa área, mas não se sentiu atraído pela ‘afición’ taurina: “A tauromaquia fez parte da minha infância, uma vez que o meu primo era toureiro. E era o meu pai quem o ajudava nos treinos e nas corridas. Então, eu passava grande parte dos meus dias vendo os treinos do meu primo. Confesso que me senti muito atraído por este mundo dos animais, sendo que até tive um pónei, o que aumentou ainda mais o entusiasmo. Mas ao longo do tempo, o futebol acabou por prevalecer”.
Sem influência familiar na sua carreira desportiva, mas com um apoio efetivo da família, Luís Soudo concorda que a vila de Cuba sempre possuiu uma valiosa ‘cantera’ de futebolistas: “O Sporting de Cuba sempre teve inúmeros atletas de enorme qualidade, com uma raça e uma vontade que os diferenciava de muitos outros”. Atletas que saíram da terra natal e foram seus embaixadores por toda a região. Mas Luís Soudo não se sente um deles. “Não me sinto um embaixador da vila. Para o ser, teria que fazer muito mais pelo clube. Sinto, apenas, que fui mais um atleta que sempre tentou ajudar o clube a ser um dos mais reconhecidos do nosso distrito, respeitando-o e dando sempre tudo por ele”.
A sua carreira começou, naturalmente, no campo de jogos Amado de Aguilar, em Cuba, onde se manteve desde os benjamins a iniciado de primeiro ano, altura em que ingressou no Despertar, de Beja, para jogar no campeonato nacional. Completou quatro épocas consecutivas com a camisola despertariana, sempre em provas nacionais, nomeadamente no campeonato de juniores, oportunidade que agradece ao ‘míster’ de então, Filipe Felizardo.
“Sempre me foi permitido escolher os melhores projetos e, dessa forma, estar sempre a competir com os melhores e contra os melhores, por isso, tenho a felicidade de ter disputado o nosso distrital, a antiga III Divisão Nacional e o Campeonato de Portugal”.
No seu currículo, tem passagens pelo Cuba, Despertar, Castrense, Vasco da Gama, Sporting de Viana, Aljustrelense e Serpa. Sem manifestar nenhuma preferência especial por envergar mais alguma camisola, assume que, pelo historial do clube, talvez lhe faltasse ter representado o Moura. Mas terão surgido outras oportunidades? “Oportunidades surgiram, só que não as consegui agarrar”, assume o jogador, recordando: “Tive a privilégio de ir treinar três vezes à Academia do Sporting, em Alcochete, com um grande amigo meu, um dos atletas mais promissores do nosso clube, o Francisco Cabaça, a quem deixo um enorme abraço. Mas, infelizmente, nenhum de nós conseguiu agarrar a oportunidade”.
Não foi caso único…“Quando disputei o nacional de juniores, pelo Despertar, era ainda juvenil e, no final da época, recebi uma proposta da Naval (Figueira da Foz) que, nessa altura, estava na I Liga”. E então? O que sucedeu? “Fiquei muito feliz, estava mais próximo do meu sonho, mas, feliz ou infelizmente, o meu pai, à última hora, não achou por bem que eu fosse. Teve receio que, naquela idade e sem o devido acompanhamento familiar, eu pudesse entrar por maus caminhos”.
Hoje, ainda no ativo e com a licenciatura em desporto já concluída, Luís Soudo confessa que nunca se arrependeu das decisões que tomou. “Nem gosto de utilizar a palavra arrependimento. Dizer que teria sido melhor ter jogado no clube A, em vez do clube B, para mim não faz sentido, porque nós nunca saberíamos o que iria acontecer se tivéssemos feito outra escolha. Tento, sim, aprender com os erros e não os voltar a cometer. Todas as situações nos levam a coisas boas e a coisas más, habituamo-nos a arranjar sempre desculpas. Mas, à medida que vamos crescendo, vamos aprendendo a lidar não só com as coisas boas, mas também com as más. Por isso, posso afirmar, neste momento, que voltaria a fazer tudo igual”.
Sem que o final da carreira de futebolista esteja no seu horizonte próximo, garante não fazer planos em relação a esse momento. Quando chegar, o futuro continuará ligado ao futebol. “Seguirei a carreira de treinador. Neste momento estou frequentando o Curso de Nível II, no sentido de me preparar da melhor forma”. Até lá, o seu compromisso é com o Serpa, líder do distrital da I Divisão e, quiçá, com o pensamento no título. “Essa ideia passa sempre pela cabeça de todos os jogadores que disputam os primeiros lugares, mas nunca estivemos obcecados. Queremos ser competitivos em todos os jogos, de modo a honrarmos a direção, que nos tem ajudado em tudo, os adeptos que, apesar de não estarem presentes, se fazem sentir e, principalmente, honrar e elevar o nome do Futebol Clube de Serpa”.
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