Um título nacional em cross country olímpico, outro título em maratonas BTT, mais um título nacional em ciclismo de fundo e outro título ainda no Campeonato Nacional de contrarrelógio.
Texto e foto Firmino Paixão
Quatro diferentes títulos nacionais numa só temporada. E um denominador comum. A melhor intérprete de todos estes campeonatos, a ciclista Teresa Fernandes, nascida em Odemira há 35 anos. Licenciada em Educação Física pela Universidade do Algarve, começou a andar de bicicleta por influência do marido, a título meramente informal. Hoje é uma atleta federada, atualmente uma das melhores ciclistas nacionais, tal a versatilidade competitiva e a facilidade com que supera os desafios que se lhe deparam. Representa o Atlantic Service/Clube Xelb, de Silves, mas a camisola com as cores nacionais não se lhe descola do corpo, porque são tantas que dificilmente outras cores suplantarão o jersey branco listado e debruado com os tons da bandeira nacional.
No intervalo das competições, Teresa Fernandes tem ainda tempo para dinamizar a secção de BTT Os Duraizos, adstrita à Associação Cultural Recreativa e Desportiva de Longueira, ali a um passo do Almograve, onde a beleza das dunas acasala com as brisas do Atlântico. Foi ali que encontrámos Teresa, e com a simplicidade das grandes heroínas, começou por revelar: “Acho que fui a única atleta a conseguir estes títulos numa só temporada, mas foi muito difícil fazer a gestão de todas as corridas, cada uma teve as suas características, foi muito trabalho, muitos treinos e muitas horas em cima da bicicleta”.
Ganhou maratonas, contrarrelógio, fundo e cross, é uma atleta polivalente: “Desde que tenha duas rodas é sempre a andar. Só me falta o downhill [ciclismo de montanha]”. Mas não é fácil e Teresa prescreveu a receita: “Persistência e dedicação à modalidade. São muitas horas que se passam sem a família, isto exige muito treino, muita teimosia, quando a gente quer muito alguma coisa, só com muito trabalho e muito empenho é que conseguimos lá chegar”.
Mas as atletas de eleição também têm os seus queixumes e na hora de sabermos como concilia a competição com a profissão atirou: “Estou desempregada, e foi por estar no desemprego que me dediquei mais à bicicleta, como forma de ocupar melhor o tempo e resultou nisto que está à vista”. “Sou licenciada em Educação Física, quando acabei o meu curso estive a trabalhar 10 anos na Câmara Municipal de Odemira, infelizmente fui uma das que vim para a rua, saí, tive que sair e foram 10 anos em que uma pessoa organiza a vida, cria uma família e agora… o requisito para trabalharmos é pagarmos para o fazer. Então mais vale ficar em casa e gerir o que temos”.
O eterno problema dos docentes e do desemprego em Portugal. Que solução? Emigrar? “Não, isso não, gosto muito do meu filho para poder ir por aí, emigrar e separar-me dele”. Mas os anos passam, apesar de não ser tão veterana como se diz: “No BTT a categoria de veterano é logo a partir dos 30 anos, mas eu não sabia que ia ter este boom a nível físico e aqui estou a andar cada vez melhor”.
A pedalar bem e a revelar-se um exemplo motivador para os ciclistas da região, alguns sem pedalada para superar o andamento da Teresa Fernandes: “Por ter a categoria de veterana e dar tanta luta às mais novas é logo um facto de destaque para ser um ídolo para as pessoas que me acarinham, o que muito me apraz registar”. E, por isso, sente-se “extremamente orgulhosa do que o desporto me tem dado e espero que a minha família tenha o mesmo sentimento”. O outro amor são os caranguejos: “O caranguejo é o duraizo, é típico das nossas rochas, tem a carapaça muito dura, daí veio o Duraizo, então formámos a secção de BTT no clube na Longueira e lembrámo-nos de lhe dar esse nome, por ser uma coisa típica da região”.
O estatuto de campeã não a inibe de participar em tudo quanto são provas domingueiras, assim o calendário federado o permita: “A minha vida sempre foi o desporto e sobretudo ao ar livre. Acho que em termos físicos já existe aqui um bom suporte para aguentar tudo isto”. E revelou ainda: “Gosto muito da canoagem no rio. Como sou de Odemira tenho uma boa ligação com o Clube Fluvial e até já fui praticante federada, um dos meus primeiros desportos a nível oficial foi a canoagem, daí ter conseguido mais pujança física”. Foi por isso que na hora da despedida, quando o sol e a aragem salgada já bronzeavam os rostos, perguntámos à Teresa o que lhe falta ganhar. “Tenho ganho tanta coisa que só me falta o downhill, o resto, títulos nacionais, já ganhei tudo nesta época, ainda me falta disputar a Taça Nacional de Cross Country, faltam duas etapas, em princípio e se tudo correr bem devo ganhar, e depois os campeonatos regionais que se disputam apenas em setembro”, concluiu a campeã odemirense.
Fonte: http://da.ambaal.pt
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